João F. Basile da
Silva
Revista SOV 2004
Arquivo editado em 22/05/2005
Revista SOV 2004
Arquivo editado em 22/05/2005
As cores dos canários são o produto
da interação de dois fatores de cor que nós chamamos de melaninas e lipocromos
(estão no plural porque considera-se a existência de mais de um tipo de cada um
deles). O efeito visual que nossos olhos podem perceber, é o resultado da
combinação desses fatores de cor.
A alimentação e os aditivos
alimentares tem pouca influencia em relação à qualidade das melaninas , sendo os
fatores genéticos os mais importantes em relação à sua expressão. Quando se
trata dos lipocromos dos canários, a alimentação bem como os aditivos
alimentares tem enorme influencia na sua qualidade e manifestação. O maior exemplo disso ocorre nos
canários chamados de "com fator vermelho", através do uso da cantaxantina, o que
é do conhecimento da grande maioria dos canaricultores. Para esse aditivo
alimentar, existe já uma pratica definida com relação à dosagens, época de uso,
e outros cuidados que possibilitam aos criadores a obtenção dos exemplares
desejados.
Os canários chamados de "sem fator
vermelho", com exceção dos brancos (que não possuem lipocromo), tem sua
expressão lipocromica definida pela alimentação e regida pêlos fatores genéticos
envolvidos. O que define a cor de um lipocromo é a combinação de pigmentos
corantes chamados de carotenóides e que estão presentes em maior ou menor
quantidade em uma grande variedade de alimentos. Uma prova disso, é o próprio
canário branco, que só é branco porque possui um "defeito" genético que o impede
justamente de fazer com que esses pigmentos se depositem nas células de suas
penas. Sabe-se também que se colocarmos um canário amarelo sob um regime
alimentar isento de carotenóides, após o término de todas as reservas do tecido
gorduroso (esse pigmento é depositado inicialmente nesse tipo de tecido), na
muda seguinte esse canário se tornará branco. Uma vez que os fatores genéticos
determinaram primordialmente a capacidade de depósito dos pigmentos na plumagem
dos canários, influenciando-o tanto de maneira quantitativa como qualitativa,
nos resta então, por meio da alimentação tentar otimizar esse processo e obter
as tonalidades desejadas e exigidas pêlos manuais de julgamento. Em outras palavras, partindo-se de
um plantei com qualidade genética superior, podemos por meio da alimentação
influenciar para melhor (ou para pior) o resultado desejado.
Com os campeonatos se tornando cada
vez mais competitivos, com a melhoria dos planteis, aliados a criadores mais
técnicos e bem informados, os desempates tem ocorrido em faixas de detalhes cada
vez mais estreitas. Com isso, o manejo da alimentação dos canários sem fator com
o objetivo de se obter um lipocromo ótimo, se toma obrigatório. Nos canários com
fator, a receita é relativamente simples : quanto menos carotenóides e mais
cantaxantina (até a dose ótima), melhor deve ser o resultado. Nos canários sem
fator, a coisa se complica bem mais, pois para começar temos três "tipos" de
lipocromos envolvidos (amarelo, amarelo marfim e branco dominante) e vários
tipos de carotenóides envolvidos em concentrações desconhecidas. Um criador que
possua essas três variantes de lipocromo em seu plantei, não deve submete-las ao
mesmo regime alimentar, pois se sabe que um amarelo marfim precisa de um aporte
maior de carotenóides na sua alimentação para melhor expressar suas qualidades.
Um branco dominante não deve, com certeza receber esse mesmo tipo de alimentação
(deve receber menos carotenóides), e o amarelo normal, por sua vez deve ser
trabalhado com um teor intermediário entre os dias. Outro complicador em relação
aos canários sem fator, é que não existe para eles nenhum aditivo alimentar que
tenha sua tecnologia de aplicação dominada em termos de uso e dosagem como a que
existe para a cantaxantina.
Com isso, nos resta conhecer
melhor os alimentos usados nas nossas criações, e dentro do possível as
quantidades de carotenóides que eles aportam, pois o resultado em termos de
lipocromo (seja ele bom ou ruim- suficiente ou insuficiente) é o produto direto
das "coisas" que damos para eles comerem.
Os carotenóides
são uma classe de compostos amplamente distribuídos no reino vegetal e em
algumas espécies animais. São responsáveis pêlos pigmentos de cor de inúmeras
espécies como tomate, laranja, verduras, milho, gema de ovo, plumagem dos
flamingos, etc. Nessa família dos carotenóides, existem mais de 500 compostos e
incluem dois tipos diferentes de moléculas: os carotenos (licopeno, beta
caroteno *, alfa caroteno, etc) e as xantofilas. As xantofílas são as
responsáveis pela coloração da plumagem de nossos canários. Como exemplos desse
tipo de carotenóide temos a zeaxantina, a cantaxantina, a luteina, a
criptoxantina, etc. As análises químicas dos diversos tipos de alimentos,
dificilmente discriminam quais são os tipos de carotenóides presentes nos
alimentos. Normalmente os resultados indicam apenas os teores de beta caroteno
(o mais estudado dos carotenóides) ou mesmo sua atividade em termos de Vitamina
A (da qual alguns carotenóides são precursores).
Sabe-se também que a zeaxantina
(carotenóide presente no milho amarelo, planta pertencente ao género Zea, daí o
nome zeaxantina), é responsável por pigmentações de amarelo mais forte, tendendo
ao alaranjado. Esse pigmento é encontrado também na gema do ovo, uma vez que as
rações de galinhas são compostas em sua grande parte por milho amarelo. Existem
indicações que os vegetais de folhas verdes e as sementes possuem maiores
proporções de luteinas, e portanto seriam mais indicados para se obter
pigmentações mais desejáveis nos canários. A tabela abaixo, nos dá uma indicação
dos teores de carotenóides presentes nos alimentos mais usados na Canaricultura
e pode servir como auxiliar no manejo da alimentação.
ALTO
|
MÉDIO
|
BAIXO
|
Milho
amarelo
Cenoura
Folhas
de brócolis espinafre
Gema
de ovo
|
Colza
Nabão
Linhaça
Farelo
de soja
Almeirão Chicória Acelga
Couve
|
Alpiste, Aveia e Níger
Milho
Branco
Farelo
de Trigo
Germe
de Trigo
Farelo
de Arroz
Leite
Desnatado
Maçã
Pepino
sem casca
Clara
de ovo
Arroz
|
Como não
existe comercialmente disponível ao canaricultor um tipo de Xantofila - como
acontece com a cantaxantina - com tecnologia definida em termos de uso e
dosagens, só nos resta tentar manejar da melhor maneira possível os alimentos
disponíveis de maneira a tentarmos obter o melhor resultado
possível.
Nesse manejo, alguns fatores merecem
destaque:
1) A literatura mostra que nas
sementes, o principal carotenóide é a luteina.
2) O ovo, milho amarelo e seus
derivados são ricos em zeaxantina.
3) Quanto mais verde, são as folhas das
verduras, maior seu teor de carotenóides (sabemos que o teor de beta caroteno é
alto, mas não sabemos o teor das xantofilas envolvidas).
Canários com cor de fundo amarelo,
amarelo marfim e branco dominante devem preferencialmente ser submetidos á
regimes alimentares distintos em termos de carotenóides.
5) Os carotenóides "amarelos" são
acumulados no tecido gorduroso dos canários, e são liberados para efeito de
coloração das penas à medida que são necessários, seja na muda de penas ou na
substituição de penas caídas. Isso quer dizer que a cor daquelas penas que
nascerem num determinado momento, reflete a alimentação ingerida pelo pássaro
nos meses anteriores. Portanto, se o canário ingeriu carotenóides inadequados
anteriormente, mesmo não estando na muda, isso pode se refletir na emplumação
posterior. Isso quer dizer que a alimentação adequada, deve ser fornecida com
bastante antecedência em relação à muda - no mínimo à partir da separação dos
pais.
fator ótico para o azul
é fundamental nesse manejo e é presença obrigatória no patrimônio genético de
nossos canários, pois se encarrega de imprimir a tonalidade "esverdeada" nos
lipocromos amarelos, quando se obtêm o desejado amarelo limão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário