Antonio Ramalho
Lendo o artigo “Manejo de Reprodutores – Novos
Métodos” de autoria do companheiro Newton Martelotta, publicado no Boletim nro 9
da OBJO, achamos oportuno tecer maus alguns comentários sobre o confinamento de
reprodutores em gaiolões. Estamos de pleno acordo que esse procedimento não é
ideal, mesmo que o número de pássaros seja compatível com o espaço livre da
voadeira. Na realidade a maioria dos criadores maneja incorretamente os
reprodutores no estágio final da temporada de cria, direcionando a manipulação
aos filhotes obtidos. Assim, os canários adultos são levados às voadeiras sem
quaisquer cuidados, exatamente quando estão mais debilitados pelo estresse
natural da estação de cria e em início da muda de penas. Todo criador mais
atento já observou que, numa comunidade, alguns pássaros, graças as suas
melhores condições físicas e/ou pelo seu “temperamento”, passam a atacar
constantemente outros, mais fracos ou “dóceis”, que além de traumatizados
fisicamente não conseguem alimentar-se adequadamente e, na maioria das vezes,
acabam sucumbindo. Os pássaros com esse tipo de comportamento são chamados pelos
europeus de “dominadores” e “dominados”. Esse fato é mais dramático entre os
machos adultos, especialmente durante a fase final da muda de penas, quando
alguns que já estão mais adiantados e mais fortes, dominam os mais fracos na
competição pela alimentação e espaços no gaiolão. Inclusive, entre canários
adultos, é comum observar-se que os machos dominados chegam mesmo a ser
subjugados sexualmente e acabam desenvolvendo modificações do comportamento
sexual, tornando-se, freqüentemente, improdutivos quando acasalados. Entre os
filhotes também observa-se o comportamento dominador-dominado e, a simples
intervenção do criador, separando em tempo o pássaro dominado, propiciando-lhe
tranqüilidade e alimentação adequada, na maioria das vezes, constitui medida
suficiente para a sua recuperação. A nossa experiência como criador e expositor,
tem mostrado que os filhotes individualizados precocemente, por traumatismos ou
debilidade, acabam não só se recuperando, mas também se destacando pelo seu
desenvolvimento e qualidade de empenação. Se o pássaro possuir então qualidades
potenciais, esse procedimento evidenciará, sem dúvida alguma, todo o seu padrão.
Sabemos entretanto que mesmo numa criação de pequeno porte é praticamente
inviável a individualização de todos os pássaros, principalmente por problemas
de espaço. Assim, é difícil prescindir o uso de voadeiras, mas alguns cuidados
precisam ser tomados, além daqueles assinalados pelo Martelotta. Os pássaros
adultos devem ser cuidadosamente examinados para avaliação do seu estado geral,
decidindo-se então a forma mais conveniente de aloja-los. Deve-se proceder a
limpeza dos pés e o corte das unhas, pois temos observado que os problemas dos
pés, provavelmente por causarem dor, deixam os pássaros estressados,
indispondo-os para a alimentação, resultando muitas vezes, na porta de entrada
para a instalação de diversas patologias com maior comprometimento ainda do seu
estado físico. Nessa ocasião deve-se também realizar tratamento preventivo ou
curativo dos problemas respiratórios e pulverização contra ácaros (e
parasitários). Os pássaros devem ser alojados de forma que os mais “fracos” não
permaneçam junto com os mais “fortes”,reservando-se a individualização para
aqueles que inspirem maiores cuidados. O uso de poleiros individuais evitam a
bicagem o que, especialmente entre os mosaicos, é de fundamental importância e,
se o número de indivíduos for adequado à área da voadeira, os pássaros, além do
espaço necessário para as suas atividades, conseguirão manter-se tranqüilos, não
sendo constantemente importunados pelos seus vizinhos. Os filhotes também podem
ser alojados inicialmente em voadeiras, observando-se a idade e/ou o estado
físico dos mesmos. No início da muda de penas devem ser transferidos para
gaiolas de cria, procurando-se alojar no máximo quatro espécimes por gaiolas,
considerando sistematicamente os critérios já discutidos. Dessa forma, mesmo a
rápida inspeção diária, permitirá identificar os pássaros que estão com
problemas, os quais devem ser individualizados para a competente atenção. Se o
criador possuir gaiolas individuais, tipo exposição, poderá iniciar a separação
dos melhores pássaros destinados aos concursos. Senão, poderá utilizar as
próprias gaiolas de criação providas de grade de separação, alojando um pássaro
de cada lado, tomando entretanto o cuidado de dispor os poleiros de tal forma
que evitam danificar as penas da cauda pelo roçamento constante contra as barras
das gaiolas. Evidentemente, essas medidas são do conhecimento da maioria dos
criadores, que infelizmente as negligenciam.
Por essa razão voltamos a destaca-las e, quem
sabe, com a sua aplicação, muitos criadores possam substituir o desânimo comum
da época da muda de penas pela satisfação em acompanhar o desenvolvimento sadio
do seu plantel.
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