Considerações sobre a debicagem em Serinus canarins.
Mauro Scaramuzza Filho, Biólogo, SPCO 324
Brasil Ornitologia ' n" 58 • Fev - Mar - Abr
Arquivo editado em 24/05/2005
Brasil Ornitologia ' n" 58 • Fev - Mar - Abr
Arquivo editado em 24/05/2005
De acordo com observações efetuadas em mais de 20 anos de criação, há evidências de que a debicagem está relacionada ao instinto e, por isso mesmo, não pode ser erradicada de um plantel por completo, mas sim controlada para que não se torne um comportamento vicioso. Entende-se por instinto, toda informação comportamental oriunda de base genética.
A debicagem como comportamento social instintivo pode ser estimulada por alguns fatores.
QUÍMICO
Ocorre por carência de elementos vitais ao organismo, que podem levar a:
a) Comportamento Vicioso (Hemofagia e/ou Canibalismo) também chamado de "tara" pêlos antigos criadores, caso em que o animal pode mutilar-se a si próprio, além dos companheiros de bando.
b) Necessidade de Auto-regulação Metabólica (por questões de desgaste bioquímico do organismo).
Solução
a) Adicionar mais sal de cozinha (NaCI), ou mesmo sal marinho, à farinhada.
b) Fornecer areia e osso de ciba com Fosfato Bi-Cálcio.
c) Oferecer petiscos como: maçã, talo de almeirão, talo de couve, porção extra de linhaça ou de níger, entre outros.
d) Prevenir o canibalismo através do uso de Lisina (aminoácido essencial, formador de proteínas).
HIERARQUIA
As aves gregárias, como os canários, as galinhas, dentre outras, têm uma forma instintiva de estabelecer sua organização social, naturalmente, por meio de bicadas. Isso ocorre desde uma leve bicada a uma briga mais séria, com várias bicadas (muitas vezes com sangramento na região frontal da cabeça e maculação das plumas do dorso), perseguições e lutas, até mesmo com o uso das garras. Isso pode levar a ferimentos com sangue que, por sua vez, irão chamar atenção do bando como um "petisco" atrativo. É necessário registrar que pode haver incompatibilidade sob a forma de:
a) Grupos Reunidos por Sexo: entre machos de um grupo, entre fêmeas e também entre grupos mistos de machos e fêmeas;
b) Grupos Reunidos por Idade: entre adultos de um bando, filhotes agrupados entre si e num grupo misto de adultos e filhotes;
c) Grupos Reunidos por Sexo e Idade: juntando exemplares de sexo e idade diferentes. A hierarquia é determinada através de disputas para uma liderança que, após estabelecida, irá constar de um exemplar Alfa, o qual terá soberania sobre todos os demais, impondo-se através de bicadas e de uma linguagem oral hostil reconhecida.
a) Grupos Reunidos por Sexo: entre machos de um grupo, entre fêmeas e também entre grupos mistos de machos e fêmeas;
b) Grupos Reunidos por Idade: entre adultos de um bando, filhotes agrupados entre si e num grupo misto de adultos e filhotes;
c) Grupos Reunidos por Sexo e Idade: juntando exemplares de sexo e idade diferentes. A hierarquia é determinada através de disputas para uma liderança que, após estabelecida, irá constar de um exemplar Alfa, o qual terá soberania sobre todos os demais, impondo-se através de bicadas e de uma linguagem oral hostil reconhecida.
Abaixo deste alfa, também chamado de "A", estarão indivíduos organizados numa escala social imediatamente inferior (B, C,...), mas ainda poderão ocorrer espécimes sem uma posição hierárquica pré-estabelecida. Trata-se de um problema que ocorre o ano todo, principalmente na época do acasalamento, quando um macho dominador pode até mesmo provocar excessivo stress, com perda de peso, taquicardia (podendo chegar a um enfarto), bem como levar a vítima a um estado de apatia e inapetência, culminando com o óbito da mesma. Popularmente, dizemos que o bando está pegando um deles para Cristo!
Solução
Solução
a) Evitar a super-população.
b) Colocar pregadores (grampos-de-roupa) nos poleiros.
c) Fazer uso de isolamento ou de uma divisória.
d) Recompor os grupos por afinidade.
Muitas vezes os genitores arrancam dos filhotes (ou entre si) plumas do peito, flancos, dorso e até mesmo da cabeça, bem como penas das asas e da cauda (em geral contendo sangue), no intuito de suprir a falta de um material macio para forrar melhor o ninho. Tratando-se de um comportamento mais comum nas fêmeas, mas podendo ocorrer também nos machos, principalmente em se tratando de Alfas. Entretanto, se houver algum tipo de material para aniagem disponível e os genitores tenderem a debicar-se ou a seus filhotes, esse comportamento será interpretado também como uma forma de: territorialismo, hierarquia, reposição de nutrientes ou mesmo por vício. Nesse caso, denominamos essa sobreposição de atitudes como Comportamento Social Instintivo de Debicagem Estimulado por Fatores Conjugados, pois há origens diversas.
Solução
a) Oferecer material para confecção do ninho: algodão, barbante, pedaço de corda, juta, estopa, entre outros.
b) Em caso de observarmos uma Debicagem por Fatores Conjugados complementar a oferta de material de aniagem com os elementos constantes dos itens l .2 e 2.2.
Conclusão
Há soluções que podem ser descritas como generalizadas, por sua aplicação prestar-se a todos os tipos de comportamentos instintivos estudados anteriormente.
Em todos esses anos de criação, temos obtido sucesso no controle da debicagem através de:
I. a prática de cortar ou lixar a ponta do bico (o extremo da camada córnea, chamada de ranfoteca) e queimá-la (cauterização com objeto de metal aquecido numa chapa de fogão), tem dado um bom resultado.
II. Isolamento do animal.
III. Desinfecção da região com sangramento por Iodo, Merthiolate, entre outras soluções anti-sépticas, evitando o ato de debicar (ou debicar-se) pelo gosto amargo do medicamento de uso tópico utilizado.
Conquanto, apesar de toda uma propensão instintiva natural, informação comportamental herdada, a debicagem também poderá ocorrer sob a forma de transmissão cultural, informação comportamental não herdada. Esta é ensinada (E. CURIÓ, 1978, in A evolução), por demonstração através de um "mestre" aos seus "aprendizes", quando o comportamento é adquirido por exemplo dado. Seria o "despertar" do instinto, mesmo sem que ocorram as necessidades de reposição bioquímica ou de hierarquia, de aniagem ou mesmo sob a forma de fatores conjuntos.
Observamos que há espécimes ou casais que não debicam, e que recebem a mesma nutrição dos debicadores, mas que podem mudar de atitude.
O que reafirma que essa mudança radical de comportamento por traço cultural pode ter um estímulo, através do mau exemplo dado, a despertar seu instinto dormente.
Concluímos que a erradicação da debicagem, por ser instintiva em canários, trata-se de uma utopia. Entretanto, seu controle ou prevenção podem ser efetivos de maneira a evitar um comportamento vicioso.
Referências Bibliográficas:
TYLERBONNER.J.
A evolução da cultura nos animais. Rio de Janeiro, Zahar, 1983.
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