Aperfeiçoamento de todos os animais, criados pelo homem.
Normalmente os machos de qualidade excepcionais são utilizados para e
acasalamentos consangüíneos criar famílias onde se tem por objetivo incluir em
todos os seus componentes as qualidades do citado reprodutor.
Com cavalos das diversas raças, gado vacum, porcos, mamíferos em
geral e aves, tal prática foi intensamente utilizada pelos grandes criadores do
passado mesmo sem conhecimentos de genética, que hoje já bastante desenvolvida
torna fácil comprovar a eficiência deste processo.
Em todos os centros ornitológicos tal prática é bastante
difundida, mas no Brasil, não sé se tira proveito destes acasalamentos como
também se evita por desconhecimento e até por preconceitos religiosos.
Em canaricultura no que se refere aos canários de porte tal
prática só trará benefícios, mas os criadores ainda não a aceitam, olhando A
utilização de consangüíneos é uma prática comumente utilizada na apuração ou
apenas o lado deficiente do processo, esquecendo de que muitas vezes os
acasalamentos entre pássaros não consangüíneos resultam em completa desilusão.
Quantos criadores gastaram somas fabulosas adquirindo campeões,
acasalando-os e obtendo apenas filhotes medíocres?
O
motivo principal a nosso ver, porém é simplesmente a ânsia de obter de primeira
temporada, isto é, da maneira mais rápida possível, pássaros de qualidade, o que
na maioria das vezes não acontece.
A
utilização dos acasalamentos consangüíneos requer além de conhecimentos,
paciência e perseverança, mas os resultados após alguns anos compensam o tempo
perdido, a proporcionarem aos verdadeiros amadores a satisfação de ter criado
uma família onde a totalidade dos componentes apresentam as características do
Standard da raça.
Porque a vantagem de tais acasalamentos> A genética nos
responde.
Hoje sabemos que cada espécie animal tem uma característica que é
o número de cromossomos de suas células.
Nossos canários possuem 9 (nove) pares de cromossomos maiores
(macrocromossomos) e um número indefinido de pares de microcromossomos. Cada um
destes cromossomos possui genes que são os responsáveis pela expressão das
características dos indivíduos, como acontece com os diversos genes que comandam
as cores dos canários, hoje já bastante difundidos.
Por ocasião da divisão celular que antecede a formação dos gametas
masculinos (espermatozóides) e feminino (óvulo) os pares cromossomos se separam
e assim cada gameta, em uma explicação simplificada, possui apenas a metade do
número de cromossomos da célula original.
Assim sendo, cada novo indivíduo recebe ao se formar um conjunto
de cromossomas do pai e outro da mãe e assim no novo ser é restabelecido o
número de cromossomos da espécie.
Neste novo ser, os pares de cromossomas são reconstituídos e de
acordo a predominância ou não entre genes para uma mesma característica esta
poderá se expressar ou não.
A
antiga e ainda usada expressão “meio sangue” significa em termos reais que o
indivíduo possui metade dos cromossomas, por exemplo de seu pai, um puro sangue
e metade correspondente a herdada de sua mãe sem as características da raça
considerada.
Cada característica é comandada por um gen ou genes e, em um
canário além dos genes que determinam a cor que apresentará o pássaro, outros há
que determinam seu tamanho, a forma de sua cabeça, tamanho do bico,
posicionamento da perna e um sem número de características que definem um
pássaro de determinada raça ou cor.
É
preciso esclarecer, porém, que a metade dos genes herdada de um reprodutor se
refere ao número de cromossomos e que somente em indivíduos homozigotos para
todas as características (caso pouco provável em canário de porte) todos os
gametas serão idênticos. O que normalmente acontece é que os indivíduos não são
homozigotos e nada impede que um pássaro excelente, possua em seu patrimônio
genético, características deficientes recessivas que serão transmitidas a seus
descendentes.
Se acasalamos um pássaro excepcional a um de suas filhas de boas
características, as chances de produzir pássaros semelhantes ao reprodutor
original é muito maior do que se utilizarmos uma fêmea não relacionada com ele,
pois sua filha possui em suas células metade dos cromossomos do seu pai,
tornando mais fácil a reconstituição do patrimônio genético original do
reprodutor em alguns dos filhotes.
De modo idêntico que as características que definem a raça a
saúde, robustez, fertilidade e outras podem ser manipuladas de modo a se
conseguir melhorar ou manter tais funções.
Dentre os acasalamentos consangüíneos podemos distinguir dois
processos: INBREEDING, onde os acasalamentos são feitos entre parentes próximos
por exemplo, pai x filha, mãe x filho, meio-irmão x meio-irmão, avô x neta
etc...
LINE-BREEDING, onde os acasalamentos são feitos entre parentescos
mais afastados.
IN BREED TO SUCESS.
Com este título o articulista de Cage and Aviary Birds, Brian
Biles publica excelente artigo sobre o sucesso obtido pelo Dr A.R. Robertson, de
Durban, África do Sul, na criação de periquitos australianos.
Os comentários do articulista inglês, fotografias dos pássaros e
referências de outros criadores não deixam dúvidas quanto à qualidade dos
ondulados do Dr Robertson, considerados tão bom ou até melhores que os melhores
periquitos ingleses.
Utilizando como guia um pequeno livro INBREEDING BUDGERIGARDS, de
autoria do Dr M.D.S. Armour, publicado após a 2a (segunda) Guerra
Mundial e conhecimentos de genética que possuiu, desenvolveu seus programas e
este ano recusou por um dos pássaros a soma de 1.000,00 (mil libras) preço
considerado lá extraordinário.
Seus pássaros são mantidos em famílias ou linhas e os
acasalamentos feitos de acordo com as características visuais dos pássaros e
seus pedigrees.
Seu plantel é todo relacionado e se levarmos em consideração que
de 1969 a 1979
foi proibida a importação de psitacídeos na África, o grau de relacionamento é
bastante aproximado.
Segundo autor do artigo, dificilmente introduz pássaros não
relacionados no plantel e faz é através de um macho, de boas características que
no primeiro ano é acasalado com duas ou mais fêmeas.
No segundo ano utiliza o macho com duas ou três fêmeas de suas
melhores filhas ao mesmo tempo que acasala vários pares de meio-irmãos. Destes
acasalamentos já consegue 30% (trinta por cento) de pássaros de qualidade tão
boas ou superiores ao reprodutor inicial.
No terceiro ano os melhores filhotes do reprodutor são acasalados
aos melhores dos acasalamentos entre os meios irmãos e o reprodutor original a
duas de suas melhores netas e a parcela do pássaro de qualidade ultrapassada já
aos 50% (cinqüenta por cento).
Outro ponto importante do artigo é que a cada indivíduo
excepcional que surge uma nova família é iniciada tendo este como fundador e o
mesmo processo desenvolvido paralelamente.
À
atuação deste criador, como acontece com grande freqüência fora de nosso país,
no que se refere às aves, é um dos muitos que podem ser citados como exemplo dos
acasalamentos consangüíneos para melhorar as características de uma variedade.
Os resultados não são imediatos. Mas observadas as regras e uma
seleção apurada, em três ou quatro temporadas no máximo, o criador poderá tornar
seu plantel homogêneo para as características do reprodutor inicial.
Os acasalamentos consangüíneos podem nos conduzir a resultados
excelentes desde que sejam feitos judiciosamente. Tentar utilizá-los com
pássaros que possuem características desejáveis é simplesmente perda de
tempo.
José
Revista UCCC - Julho 2001
Arquivo editado em 07/09/2001
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