21 de ago. de 2015

USO DE PORTADORES NAS MUTAÇÕES DE LINHA ESCURA



Autor: Paulo César Löf
(artigo publicado na revista da ABOC – Blumenau, do 38º Campeonato Estadual Catarinense de Ornitologia, junho de 2015)
Fonte de constantes questionamentos, o uso de canários portadores nas mutações deve ser objeto de atenta observação. Esse texto não tem a pretensão de ser um guia para a utilização desses pássaros, mas sim de uma chamada à reflexão por parte dos criadores que desejam utilizar desse manejo para a melhora de seus exemplares.
As cores clássicas da linha escura têm passado por um período de grande desenvolvimento, motivado especialmente pelo grande investimento que vários criadores realizaram, desenvolvendo fortemente tonalidade e desenho melânico em especial.
Na linha de oxidados clássicos (verdes, cobres e canelas) nossos pássaros se distinguem pela intensidade da tonalidade melânica e sua envoltura, por vezes perdendo em desenho. A exceção dos oxidados é a cor azul recessivo, onde ainda há pouco desenvolvimento, em virtude da utilização para competição de canários apenas fenotipicamente azuis, mas derivados dos azuis dominantes marfins, em detrimento dos azuis puros. Mas acredito que também essa cor, com o tempo, será equiparada aos demais mencionados.
Nos diluídos, nossos ágatas e isabelinos possuem adequada expressão melânica e limpeza de fundo-interestrias de envoltura, ainda que em algumas cores a feomelanina também seja erroneamente tolerada.
Nossos pássaros clássicos hoje estão distantes dos pássaros europeus, que durante muito tempo foram as referências em qualidade, motivada essa distância em parte pelo nosso diferente olhar sobre os pássaros criados e julgados. No hemisfério sul, nossos canários melânicos oxidados são mais escuros falando de modo genérico, pois damos grande importância à envoltura, sendo tolerantes com a presença de feomelanina em alguns casos. Nos diluídos, temos pássaros de desenho com boa expressão melânica e adequada largura de estrias, com ótimo desenho dorsal e de cabeça.
Pois bem, e o que tema dos portadores tem a ver com isso?
Essa introdução foi feita para que se compreenda a importância de desenvolver a criação com metas definidas. No caso das mutações, o seu desenvolvimento deve ter base no melhoramento que as cores originárias sofram. Por exemplo, um verde pastel intenso deverá ter todas as boas características de sua cor mutada – o verde clássico – diferenciando-se somente pela atuação da mutação sobre as melaninas. Portanto, um verde pastel de excelente qualidade deverá também ser fortemente oxidado , de desenho largo e definido, envolto, sendo que apenas a sua melanina sofrerá atenuação pelo fator pastel. Portanto, se um verde clássico for desenvolvido e melhorado, a mutação também deverá e poderá acompanhar essa evolução. Outro exemplo, os canários ágatas topázio hoje apresentam desenho nítido e contrastante, de muita expressão melânica, semelhante aos clássicos não mutados, diferenciando-se em tonalidade.
Daí, decorre o questionamento se devemos sempre utilizar pássaros clássicos para o melhoramento dos mutados. A resposta é “depende”.
A utilização de canários clássicos na melhora das mutações deve levar em conta qual fator de qualidade e seleção se deseja adicionar aos pássaros mutados. Não é, por exemplo, utilizando-se um verde de baixa qualidade, somente por ser clássico, que se vá melhorar o verde pastel acima mencionado como exemplo. Deve-se utilizar o canário verde de maior qualidade, um pássaro que seja um ótimo clássico, pois assim suas características serão passadas à prole mutada ou portadora da mutação. O uso de canelas, comum nesse caso, é assunto para outra matéria.
Porém, nem sempre essa regra é funcional. Como exemplo, também percebemos que em muitos casos, a melhora dos canários mutações têm por base a utilização de pássaros clássicos inadequados para cria ou concurso. Um bom exemplo está nos ágatas eumo, onde os pássaros que dão origem aos melhores mutados são clássicos com maior oxidação e estrias mais largas, indesejados para a seleção dos ágatas clássicos, mas que quando introduzidos nos mutados, resultam em maior expressão melânica e desenho mais nítido, pois os originários de bons clássicos apresentam redução também no contraste do desenho, embora essa aparente menos expressão melânica possa ser uma mera impressão visual.
Outro exemplo interessante foi a tentativa de utilização de excelentes ágatas mosaicos clássicos nos plantéis de ágatas pastéis e topázios mosaicos. Nesse caso, acreditava-se que a utilização de bons clássicos, por seu desenho negro, nítido e limpeza pudesse adicionar expressão, nitidez e desenho às mutações, mas, quando utilizados, percebeu-se que os mutados originários desses acasalamentos perdiam muito a tonalidade de desenho, talvez em parte pela falta de feomelanina como componente de tonalidade. No final, nem os pastéis e topázios melhoraram com a introdução dos clássicos e nem vice-versa, pois os clássicos vindos dos mutados também eram inservíveis, pois apresentavam grande “sujeira” feomelânica. Nesse caso, também, a melhora se deu com a seleção e acasalamento dos melhores topázios e pastéis, simplesmente.
Esses exemplos acima mencionados dão a dimensão da importância de que primeiro seja definido em quê a mutação em questão precisa melhorar e identificar como ela pode ser melhorada através da utilização de portadores.
Também como exemplo, e que bem demonstra essa questão, é a constante pergunta se no caso dos feos com fator é viável utilizar de feos sem fator para melhorar as suas melaninas. A resposta é DEPENDE!
Nesse caso, devemos levar em conta que somente por se utilizar um pássaro sem o fator vermelho não será em hipótese nenhuma um fator melhorados, muito pelo contrário, trará mais um problema: os pássaros de cor intermediária, que não são nem vermelhos e nem amarelos, inviabilizando-os para concurso. Nesse caso específico, nossa resposta quando perguntados se a utilização de feos sem fator melhora os com fator é sempre a mesma: se o feo sem fator for melhor que o com fator, deve ser usado, senão, não.
Ainda, sempre se pergunta se não haveria a possibilidade de utilizar um feo com faor de maior qualidade antes de optar pelo sem fator. Ou seja, portador se usa sempre que for para melhorar o mutado, e não porque é um clássico.
No caso dos opalinos de novo tipo, que logo serão denominados Mogno, tentou-se utilizar bons clássicos, sem muito sucesso, pois se percebeu que os melhores resultados advinham de acasalamentos entre opalinos x opalinos e muita seleção.
De toda essa breve análise, se pode concluir que o criador que deseja fazer a melhora de seu plantel através da utilização de pássaros portadores, deverá primeiro conhecer a fundo e ter sempre em mente as características que estão em falta no seu plantel de mutação e ver se há essas características disponíveis nos pássaros clássicos que deseja utilizar. Às vezes, o investimento em um bom canário já “pronto” pode ser o caminho mais curto.
Dessa forma, se presume que um dos pré-requisitos para êxito no sucesso de melhoria através de cruzamento e seleção deve ser acompanhada de conhecimento profundo dos fatores a serem melhorados e do comportamento da introdução de canários de outra cor (clássicos) no seu plantel.
Portanto, havendo dúvida, que se use um canário mutação de ótima qualidade e se faça a seleção adequada.

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