25 de jun. de 2012

O ESTIGMA DA GAIOLA


Os valorosos esforços das ONG'S (Organizações não Governamentais) juntamente com a mídia falada e escrita, em defesa dos nossos animais silvestres e do nosso meio ambiente, levou na última década a milhões de brasileiros, através dos televisores, revistas, rádios e jornais reportagens investigativas sobre caças predatórias, comércio ilegais de animais, uso indevido e inadequado dos recursos do meio ambiente, mostrando ao país e ao mundo a destruição de nossa fauna e flora, produtos da prática de atos ilegais de contrabandistas e traficantes de animais, resultando na extinção de várias espécies de animais silvestres brasileiros.
Os resultados alcançados foram extremamente positivos, despertando na população em geral uma importante consciência ecológica. Essa consciência ecológica mobilizou, também o meio político e o poder legislativo. Foram criadas severas leis e editadas portarias regulamentadoras protegendo nossos animais.

Por outro lado, esse enfoque de forma generalizada produziu um efeito indesejável para a ornitologia nacional, na medida que produziu na população uma aversão a jaulas e gaiolas, criando um verdadeiro estigma. Criadores de aves, ornitófilos e ornitologistas, se viram confundidos com pessoas que praticam atos prejudiciais e ilegais à sociedade. Essas pessoas, verdadeiros estudiosos das aves, já prestaram e ainda prestam enormes serviços à preservação e perpetuação desses maravilhosos animais, com seus trabalhos conseguiram reproduzir em cativeiro grande números de espécies silvestres antes resistentes à reprodução fora de seu habitat, eliminando o risco de extinção de inúmeras espécies.

O estigma da Gaiola que hoje está presente na nossa sociedade vem inviabilizando a prática de criadores e ornitólogos, já que atinge o lado financeiro dessa atividade. O sustentáculo da ornitologia, em um país em desenvolvimento como o Brasil, se origina na venda de matrizes entre criadores e de exemplares ofertados nas exposições de vendas patrocinadas pelos clubes ornitológicos, abertas ao público em geral. Dado ao atual quadro de desinteresse, resultado do "estigma da gaiola" essas exposições vem apresentando fraco desempenho em termos de freqüentadores, já que não são divulgadas pela mídia, devido ao receio de serem taxadas de apoiadoras de atos contra os animais. As agências de propaganda, canais de TV'S, jornais, revistas, emissoras de rádios, etc, com raras exceções, relutam em abraçar e divulgar as atividades ligadas aos clubes ornitológicos, só o fazem através de matéria paga, dessa forma ficando sem responsabilidades pela veiculação. Fica mais cômodo para esses órgãos de imprensa ficarem omissos na divulgação espontânea, não correndo o risco de serem questionados.

É nesse contexto que venho conclamar uma cruzada contra esse preconceito, com a união das ONG'S e da mídia para separar o "joio do trigo " colocando criadores e ornitólogos de um lado e contrabandistas e pessoas que se aproveitam dos animais para prática de atos ilegais, do outro.. Hoje temos leis fortes e modernas que coíbem as práticas prejudiciais a nossa fauna e flora, devemos usá-las e ajudar as autoridades a exercer o rigor da lei.

Como já é sabido, a criação em cativeiro é fundamental na preservação das espécies funcionando como um verdadeiro seguro, mantendo um banco genético preservado e seguro a disposição do homem para eventuais necessidades de reposição no seu habitat natural. As pesquisas e práticas de manejos são de fundamental importância para o sucesso da criação, tivemos enormes avanços neste campo, mas temos muitos desafios a vencer.

Somente com um grande trabalho de todos (sociedade, criadores, clubes ornitológicos, autoridades, mídia, etc.) conseguiremos resgatar o verdadeiro valor das atividades ligadas à criação e preservação de nossos animais, e em especial as nossas aves e vencer esse estigma da gaiola que tanto vem prejudicando o desenvolvimento das atividades ornitológicas no Brasil.

Silvano Pereira Ferraz

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